Rubem Alves - Algumas considerações

“A renovação da educação não se encontra em uma nova Lei de Diretrizes e Bases. É preciso mudar os sentimentos e as idéias na cabeça dos professores”,

Me perdoem os fans de Rubem Alves, inclusive por que não possuo o porte acadêmico e teórico deste importante Educador. Mas não posso passar por frases como esta sem questionar. Está na minha natureza Freireana.

Já dizia um grande professor meu: "O senso comum vê um filme Hollywoodiano, na película um homem pega um taxi, anda pela cidade, para em um parque, pega outro taxi, vai ao cinema, pega outro taxi, passa na casa da namorada, pega mais um taxi e janta em um restaurante. Após o jantar eles andam pela margem de um rio à noite até a casa do personagem principal e fazem amor. Tudo é lindo! Por mais chato que pareça, um Marxista ao ver essa cena pergunta: O que esse homem faz da vida? Com que dinheiro pega tantos Taxis? Que cidade é essa que permite pessoas andarem pela madrugada sozinhas a pé? O rio não estaria poluído? Será que algum deles não é casado? Estariam usando camisinha?!"

Esse é mais ou menos o ponto de vista que eu tenho em relação às crônicas de Rubens Alves. Tudo é muito lindo, aparentemente faz muito sentido. Mas se pararmos para pensar nos perguntaremos. Como mudar a cabeça e os sentimentos desse professor? Como sabendo que a cada dia mais e mais faculdades formam professores sem nenhum critério de qualidade. Como se o que se conhece em formaçao continuada são cursos e mais cursos à distância? Como se, para manter a família e se manter, este professor, como eu, tem que trabalhar em todos os horários em praticamente todos os dias da semana, em uma dinâmica que favorece muito mais à alienação do trabalho do que a criticidade que a prática docente exige?

Na verdade o que Rubem Alves faz é inverter a lógica da qualidade da educação e da motivação e formação dos professores. Colocando nos já combalidos mestres, além de tudo, a tarefa de se motivar, se formar, se sustentar e construir, a despeito de tudo e de todos, uma educação melhor.

Bom, pelo menos é isso que eu penso...

"Só não me realizo quando vou ao banco e vejo uma miséria" Repotagem de "O POVO" de 03/11/09

"Estudo sobre salários dos professores nas redes públicas aponta o Ceará como o Estado com a quarta pior média salarial para os profissionais"

É, não da pra evitar. Assunto de interesse público, e ainda mais de tratando de colegas professores. O Ceará é o 4° Estado pior pagador de professores graduados. A reportagem do Jornal O POVO não deixa dúvida, toda a propaganda oficial do Governo do Estado, e da ilustríssima Secretaria de Educação não passa de uma falácia! Sem salários dignos não existe possibilidade de se construir uma educação de qualidade.

Sem contar que o magistério é a 2ª profissão mais estressante entre as pesquisadas, perdente apenas para os Agentes Penitenciários!

Quando comecei a escrever no blog poderiam ter me confundido com aqueles pedagogos fajutos que defendem que "Professores não devem reclamar de salário", que "o que falta para uma educação melhor é qualificação e motivação docente". Não me tenham como um desses, esses tipos de postura enojam qualquer professor minimamente comprometido com a Educação. Na verdade são reflexo das políticas oficiais que desvalorizam o professor e destroem a Educação. 

Sem salários compatíveis com a função e com e exesso de trabalho; precarização docente e falta de condições pedagógicas das escolas, só com um milagre para  fazer a Escola Pública funcionar! Escola não é CIRCO e o professor não é PALHAÇO!

Aula é como sexo, só serve se você fizer com prazer...

Todos sabemos das péssimas condições de trabalho dos professores no Brasil. Hoje fiquei sabendo que no Ceará, meu Estado (não, não moro em Valinor),  temos o 5º pior salário entre professores do País.

De fato e longe disso, não me sinto conformado com esta situação. Mas nos dias de quinta à noite dou aula no Colégio Municipal Filgueiras Lima, para uma turma de 2º ano do ensino médio, e isto, mais do que uma obrigação é um prazer para mim. Sem stress, sem pressão, uma turma de adultos. Passo o dia todo trabalhando, mas não me canso com essa aula.

Poder sentir prazer fazendo o que se gosta é um privilégio! Não se enganem, como no sexo, aulas so servem se forem feitas com prazer... é uma constatação!

Um dilema em minha vida. Pública ou Privada?

Falar que a Escola Pública é um fracasso se transformou em um clichê. Muita gente que nunca visitou uma ,repete a frase como se fosse especialista. Trabalhei 5 anos na rede privada e vou fazer 3 na pública ,  por isso posso dizer com propriedade, DEPENDE!

Trabalhei em escolas particulares que me fizeram pegar um verdadeiro trauma desse setor. Salários atrasados, desorganização, nenhum compromisso pedagógico, falta de ética, produtivismo ao extremo, etc. Um verdadeiro terror.

A rede pública é apaixonante. Os desafios, o processo de construção coletiva, saber que estamos trabalhando com quem realmente precisa, a liberdade metodológica, a estabilidade, as lutas da categorias.

Em compensação, os salários são péssimos, a estrutura é ruim e não existe nenhum reconhecimento pelo trabalho. Alem da completa precarização do trabalho docente, os riscos à saúde a até mesmo à vida do professor.

A questão é, frente aos problemas da vida real o que fazer? Hoje recebi uma proposta de trabalho da rede privada com uma carga horária menor e um salário maior do que eu tenho no Estado e Muncípio. Só em pensar nessa possibilidade já me sinto ferindo meus princípios, mas minha esposa está grávida de nossa 1ª  filha e isso me coloca com uma série de planos a realizar, coisa a fazer, responsabilidades futuras, aaaaaaa!... resultado...estou em um dilema!

O que fazer?

Ocupando o universo dos Blogs

Em primeiro lugar cabe a discussão: Por que escrever em Blogs? Simplesmente por ser um espaço de debate tão amplo quanto o tema "Educação" merece. Sempre senti a necessidade de debater assuntos relacionados à minha labuta e à questões de interesse de professores e alunos, e, como ando em uma rotina de trabalho maluca , nada mais certo que usar este espaço para isso.

Educação, por que acredito (nossa como é bom poder escrever em 1ª pessoa) que ela tem um papel fundamental como espaço de disputa entre ideologias e consciências. Não que ela vá mudar o mundo sozinha, mas como disse Paulo Freire ela "muda os homems e eles mudam o mundo."

Consciência, pois acredito que como professor não posso me desligar dos desafios e lutas da classe trabalhadora. Tenho que ser um elemento de ligação da consciência desta classe. Principalmente sabendo que, na rede pública damos aulas para os filhos destes trabalhadores.

Liberdade por motivos. Primeiro por que ensino em uma Escola Prisional (depois explico melhor meu trabalho), e o tema liberdade é recorrente nesse meio. Segundo pois acredito na Educação como prática da liberdade.

Espero que todos que leiam este blog comentem, protestem, reclamem. Este espaço é de todos nós!